sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Intermezzo






Choro ao terminar de ler "Manual de Pintura e Caligrafia". Não é um choro convulso, é um choro discreto, adequado ao lugar onde estou, misto de cafeteria e padaria. Duas lágrimas, ou talvez uma, me escorrem de cada olho. Por que avaliar, investigar este impacto? Deixo que continue aí: choro ao terminar de ler "Manual de Pintura e Caligrafia". E, assim, digo tudo. Mas não evito, nem consigo evitá-lo, questionar, indagar, buscar os comos e os porquês. O livro termina com um casal, do qual o homem é o personagem principal e narrador, que recebe a notícia de que caiu o regime fascista de Portugal. Estes movimentos sociais me emocionam, assim como me emocionei, e chorei, na vitória de Dilma. Parece-me que se concretiza, e age, nestes momentos, um abstrato, como Nação, Pátria ou Povo, enfim: a Voz do Povo, a Vontade da Nação. (Mas a qual preço? Sob quais alianças? E o quanto entregamos de nossos ideais?)

Choro ao encontrar o político em um livro intimista. Mas é exatamente quando a dimensão política penetra na vida do personagem, que ele pode fechar um ciclo de crescimento no qual ingressou ao começar a escrever. E parece neste exato momento reconciliar-se com a pintura. O livro começa com um projeto de pintura e termina com um projeto de escrita.

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